sábado, 21 de agosto de 2010

Welcome to the Family!

Vendo a trilogia de "O Poderoso Chefão" de Mario Puzo, dirigido por Francis Ford Coppola ["The Godfather" no original] pude perceber sobre o que é a máfia, e sem dúvida ela se trata de poder. Mas não falo de poder bruto, de uma força mortal, aniquiladora, é sobre ter o poder em mãos para que possa ser usado para o objetivo maior do Mobster, proteger sua Família.
Cabe aqui uma observação, o parentesco não vem necessariamente de laços de sangue, apesar da hereditariedade do comando da família depender desses, a "Família" pode ser alongada também através do batismo, onde o padrinho [godfather no inglês] incorpora novos integrantes à família.
Para entender a origem de grupos mafiosos é só atentar para fragilidade do homem, para fraqueza de um ser, e para as chagas tremendas que lhe podem ser causadas devido ao abuso de poder por grupos que detém algum tipo de coerção social. Quando um general local mata um de seus opositores, mas eventualmente deixa vivo um dos integrantes da família, pode esperar por vingança, caso tal indivíduo tenha coragem para a retaliação [o que não é difícil, pois ver sua família sofrendo pode ser muito motivador.
Considerando então um ">>" nos acontecimentos chegamos ao seguinte contexto: a família hierarquizada e centrada no Don, patriarca e comandante da força armada e dos negócios da família, e por quê? Pois poder não vem de graça, de nada adianta executar uma vingança e perder todos os familiares depois da mesma, é preciso ter poder para manter a família toda em segurança a longo prazo, para que essa possa crescer, se desenvolver, frutificar, afinal de contas diferente dos governos as Famílias não querem conquistar o mundo, querem apenas manter seus entes em prosperidade...
Quem vê assim nem imagina que o novinho de oficial seria o sucessor do título de Don Corleone.
Entretanto o mundo é finito, e é conhecido que o mesmo não acontece com a ganância dos homens, assim sendo expandir os negócios da família esbarrará, certamente com os negócios de outras famílias, outras facções criminosas, grupos de poder econômico e político, enfim, entre todos aqueles que queiram uma fatia desse mundo para exercer sobre essa, sua influência. Tal cenário faz com que a expansão dos negócios [necessária à manutenção da segurança dos entes] se torne um campo de batalha onde alguns familiares lutarão e morrerão, onde o lado pessoal tentará tomar conta da razão, onde o revanchismo, a vingança, a traição e a necessidade de manter a tradição do Don se tornará forte, imagine esse pensamento expandido para todas as famílias e está formado um contexto de guerra.
O Don pode não carregar o peso do mundo nas costas, mas certamente sustenta o da paz e prosperidade de seus entes, como patriarca deve fazer com que os negócios da família prosperem, deve usar os modos que forem necessários para manter a ordem na família, para ganhar respeito das demais famílias, no estado, da igreja. É o caso clássico de quem precisa manter os amigos próximos e os inimigos mais próximos ainda, precisa jogar com a razão, pois a emoção afeta o discernimento, o faz cair em armadilhas, não perceber traições, e confiar naquele que o apunhalará. Por vezes, aliás, decisões difíceis são tomadas, nem sempre corretas, mas com o intuito de proteger os negócios, com fins maiores de assegurar o bem estar da família, como matar o próprio irmão [ou mandar matar].
A vida na máfia é uma vida de crimes, sem dúvida, e traz uma velhice de arrependimentos e fantasmas. Carregar tantos pecados, tantos inimigos, ter que gerir o poder até seus últimos dias ou ter de escolher sabiamente seu sucessor, mesmo assim, seus inimigos ainda o visarão, bem como sua família, a segurança nunca é uma certeza, apenas um risco com uma probabilidade significativa relacionara à ele. E por vezes o mais poderoso mafioso perde o que lhe é mais caro, um filho ou uma filha, um neto, um inocente em meio ao fogo cruzado.
Foi isso que pude entender da vida na máfia: amor pela família, tradição, poder, ganância, traição, corrupção,  incerteza, negócios, controle, e toda gama de fatores que colocam o Don sobre pressão são a face da vida na máfia, mas uma coisa também é certa, as dores do passado não trazem sempre o arrependimento, e mesmo que esse venha o Don sabe que dificilmente mudaria algum de seus atos do passado...

2 comentários:

  1. Chega ficou soando akela música do poderoso chefão na minha cabeça enquanto eu lia isso. Muito bacana! Acho a máfia muito do caralho justamente por estar cercada de todos os vícios do mundo do crime, sendo que seu objetivo principal é proteger e prosperar a família =]
    Já recuperei meu poderoso chefão, vou assistir, tentar entender melhor, e depois vejo o resto da trilogia.. =]

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  2. Essa lógica é bem ampla, na verdade. Proteger familiares, a qualquer preço, é até bem comum nas várias formas de vida. É claro que somente nos humanos isso ganha conceitos mais abstratos, como vingaça, honra, ética, perdão, etc, mas talvez seja justamente isso que seja interessante, ou um porre completo, dependendo da pessoa.

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